11 de fev. de 2010

O iPad é sim revolucionário, mas faz pouco sentido no Brasil

Provavelmente essa primeira geração do iPad não é para você, que está lendo um site de tecnologia no Brasil, por algumas falhas que irritam os mais tecnófilos. Aliás, não há como negar que boa parte dos maiores fãs da Apple ficaram um pouco (ou muito) decepcionados com o que foi revelado há alguns dias. Mas o (ou a?) tablet da Apple é exatamente o que Steve Jobs queria que fosse: um gadget para um segmento de mercado que talvez nem soubéssemos que existia até então, que abarca potencialmente todo mundo, no longo prazo.
É um pouco difícil fazer hoje qualquer previsão sobre o sucesso do iPad, ou o quanto que as pessoas vão entender o seu propósito que é, sim, revolucionário. Mas uma coisa é certa: ele faz muito pouco sentido para os brasileiros. Aqui está o porquê.

O maior nicho de mercado: todo mundo
Por mais que os produtos da Apple sejam objetos de desejo para muita gente (inclusiven nós), o público-alvo sempre foi algo maior que os amantes de tecnologia, desde a volta de Steve Jobs ao controle da empresa, em 1997. E para entender o propósito do iPad, é preciso examinar um número: a Apple vendeu 250 milhões de iPods.
Quando o iPod foi lançado em 2001, já havia empresas estabelecidas produzindo tocadores de MP3. Os concorrentes faziam basicamente a mesma coisa - ou mais, normalmente cobrando menos dinheiro. O mesmo cenário aconteceu no lançamento do iPhone em 2007. E ambos foram sucesso, redefinindo a indústria.
O sucesso do iPod está intimamente ligado ao iTunes. Algo que nunca fez muito sentido pra gente aqui. No Brasil, compramos MPX vagabundos, caçamos coisas no Soulseek/Kazaa/eDonkey ou o que seja. As pessoas que não têm familiaridade com tecnologia compram CDs de MP3. Vá à Sta. Ifigênia em São Paulo ou qualquer "Feira do Paraguai" e veja que os vendedores também "carregam" os tocadores das pessoas. Às vezes essa tarefa cabe aos filhos, sobrinhos e colegas de trabalho.

No Brasil?
Aqui no Brasil, muito pouco, ainda. O iPhone 3GS também é possivelmente o melhor smartphone no geral, mas acredito que por motivos diferentes, e somente a partir do 3G. E para usá-lo no máximo, é preciso ter bastante dinheiro para pagar o aparelho e o plano, além de precisar comprar gift cards e usar uma conta estrangeira do iTunes.
Conteúdo para compra, a um preço justo? Esqueça. Não há uma Amazon digital brasileira, e experiências de aluguel de filmes ainda engatinham, são caras e ruins; sites de download de músicas são na média bastante caros. Boa parte do bom conteúdo por streaming (Hulu, Spotify) é bloqueado para IPs brasileiros. Há Lost no
Terra TV, Family Guy no Mundo Fox, mas é muito pouco. Faltam programas e conteúdo, boa parte da razão de ser do iPad.
E como dispositivo de navegação na internet, também será difícil de vendê-lo pelo preço. Por aqui o iPad com 3G, a alternativa mais interessante, chegará daqui a uns 5 meses, num chute otimista, custando o dobro de um netbook (a versão mais simples, apenas com Wi-Fi e 16 GB, pode estar disponível já no fim de março). Mas o plano 3G continuará sendo caro, e há poucos espaços de Wi-Fi gratuitos.
Outro fator importante: segurança. Chega a ser surreal a sugestão de que poderíamos ler o jornal no ônibus/metrô com um iPad, um feromônio para bandido. Boa parte do sucesso dos netbooks nos países em desenvolvimento é que eles são discretos. A violência em grandes cidades
é sim um fator limitante para o uso dos gadgets.
Mas, convenhamos, a Apple não dá muita bola para nosso país - na última coletiva eles disseram que estavam
tentando entender o mercado e os preços absurdos. Podemos ficar alijados de uma inovação tecnológica porque as empresas não tem obrigação de investir em um mercado complicado, que pode não ser tão rentável por causa dos impostos.
Se você tem dinheiro, quer fazer um agrado para sua mãe, está atrasando a compra do Kindle para ler HQs, é um designer,
ótimo, compre uma passagem barata para Miami e entre na fila do iPad assim que ele chegar às iluminadas Apple stores. É um brinquedinho animal, se você souber usar VPNs para comprar conteúdo gringo, tiver Wi-Fi sempre disponível. Mesmo se não for o caso, não acho que você vá se arrepender. Não, eu não estou sendo sarcástico.

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